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Aquela tarde de segunda-feira


Estava Cecília sentada do lado de fora da casa brincando com Neguinha, que não era uma simples boneca, era a boneca mais importante que tinha, pois era uma lembrança da sua Avó que já havia partido. Porém naquela tarde Cecília percebeu uma atmosfera diferente no ambiente, não sabia bem certo o que. Foi quando notou que as mulheres passavam de braços dados, andando de cabeça baixa e sussurrando algumas palavras que a menina não entendia. Percebeu logo em seguida os homens a passos apressados, comentando alguma coisa de muito importante que teria acontecido na rua de cima, mas Cecília e Neguinha olhavam e não entendia o que estava acontecendo e Neguinha já estava com aquele olhar que alguma coisa de importante estaria por acontecer. Foi quando Cecília ouviu a antiga porta de sua casa abrir, sua mãe por o rosto na fresta fazendo chama - lá, mas eis que não o fez distraída pela agitação na pequena rua de imperfeito calçamento.
A mãe da menina vê a vizinha de frente na janela, a qual ela tem muita intimidade e resolve perguntá-la o que estava acontecendo, rapidamente a mesma fecha a janela e abre a porta de sua casa recentimente reformada e pintada de azul, indo em direção ao outro lado da rua, com a testa franzida e a respiração ofegante, começa a falar bem pianinho o ocorrido. Hora e meia uma delas olha para Cecília e põe a mão no rosto, com um semblante nada animador. A menina ainda sentada na porta da casa e olhando para as duas sem conseguir entender uma só palavra, percebendo que pelos gestos algo não muito bom estava acontecendo!
Por essas alturas já estavam em pé na porta de Cecília as duas  vizinhas do lado, todas com o mesmo semblante e como o sussurro já estava parecendo uma ladainha, o pai de Cecília chegou à janela pra saber qual era o motivo. E ninguém mais viu Cecília nem Neguinha sentadas na porta, a vizinha da casa amarela de portas vermelhas quase que tropeçou na menina!
A tarde caira, uma fina névoa cobrira a cidade, a menina começou a sentir frio, olhou para sua mãe na esperança que a mesma trouxesse seu agasalho, mas em vão, até que olhou para o pai, porém ele só fez sorrir-lhe.
Cecília então levantou e caminhou como se estivesse a escalar o meio fio próximo a parede caiada de branco de sua casa para adentrá-la e aquecer-se, foi quando a vizinha da casa branca de porta marrom balbuciou em tom firme - olha o carro com o Zelador! A menina jeitosamente cavou uma brecha nas pernas das mulheres para ve-lo. Foi quando ficou maravilhada ao perceber o farol alto sob a neblina, era um carro preto de quatro portas, com letreiros dourados, cheio de flores, seguindo lentamente a pequena rua de calçamento imperfeito, acompanhado de outros carros de tamanhos e cores diferentes.  Rapidamente olhou para cima sem destrair-se dos carros e viu toda a vizinhança nas janelas a olhar com um semblante sereno e piedoso, parecendo que estavam vendo aquele carro pela ultima vez!
Ficaram ali, todos olhando até passar o último carro e a menina Cecília boquiaberta observando janelas por janelas se fechando, as vizinhas regressando para suas casas uma a uma sem um só comentário, foi a primeira vez que ela ouviu o silêncio. Foi quando sua mãe se despediu da vizinha de frente com um leve baixar de cabeça e a mesma regressou abrindo a porta recém reformada e pintada de azul, o pai fechou a janela que de tão antiga já estava quase desbotada e a mãe pegou a mão da menina olhou para traz e disse ADEUS Zelador. Cecília olhou para a mãe, olhou para neguinha e pensou: que gente estranha era só mais umas das aprontações do Zelador! Qualquer dia desses Neguinha, vamos andar em um carro cheio de flores, mas vou preferir um colorido e você?

Domingos Gonzaga

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